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segunda-feira, 10 de setembro de 2012


Viagem esquecida
Fechado para a visitação desde 2006, acervo do Museu da Varig pode ir a leilão

AVIAÇÃO ELIO BANDEIRA
elio.bandeira@zerohora.com.br

Orgulho dos gaúchos durante décadas, a Varig corre o risco de não ser conhecida pelas gerações futuras. O acervo do museu da companhia, fechado desde 2006, pode ir a leilão no próximo ano para o pagamento de dívidas.


Mesmo que a reabertura do local seja a intenção dos gestores da massa falida, as negociações para que uma organização pública ou privada assuma o material não evoluíram nos últimos anos.

Situado em um hangar na área do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, e cercado por um muro, o local abriga peças de valor inestimável para a aviação brasileira, como o primeiro bilhete emitido pela Varig, o primeiro simulador de voo e antigos uniformes da companhia que reinou durante anos no céu do Brasil.

Conforme os gestores do que restou da companhia (a marca Varig foi comprada pela empresa Gol em março de 2007), responsáveis pela guarda do museu, a maioria dos itens está protegida por redomas de vidro, como ocorria quando o local estava aberto ao público, e visitas periódicas são realizadas para manutenção e limpeza.

A peça que desperta maior interesse, porém, é o antigo DC-3, prefixo PP-ANU, que repousa em um terreno ao lado, no estacionamento de uma empresa de guindastes. A fuselagem está em bom estado de conservação, mas a aeronave tem sujeira e musgos, resultado da ação do tempo.

O acesso à cabine está protegido por um cadeado, mas é possível notar a necessidade de reforma nas poltronas. Todos os meses aparecem pessoas – inclusive do Exterior – pedindo para entrar no terreno e tirar fotos do avião.

Empresa acumula cerca de 10 mil credores trabalhistas

Ao lado do DC-3, está um tanque extra de combustível de um avião Super Constellation, utilizado para longas distâncias. Na frente, em meio ao mato que cresce, há duas placas de bronze. Em uma delas, está uma frase do ex-presidente Getúlio Vargas que diz o seguinte: “A aviação é a predestinação histórica dos brasileiros”.

A reabertura do espaço, no entanto, não será fácil. O acervo está sob o controle da massa falida da empresa, e o processo judicial corre na 2ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), aos cuidados da juíza Márcia Cunha. Os interessados em assumir o museu devem encaminhar um projeto, que será analisado pela juíza e pelos representantes dos credores.

Segundo o gestor judicial da massa falida da Varig, Jaime Canha, nada foi formalizado até agora e, se a questão não evoluir, o acervo corre o risco de ser leiloado no primeiro semestre do próximo ano.

– Nossa intenção é que todos esses itens sejam assumidos por alguém que tenha responsabilidade e cuidado adequado. A memória da Varig agradeceria isso – afirma Canha.

Atualmente, existem cerca de 10 mil credores trabalhistas da antiga Varig e, desde dezembro passado, começaram os leilões de bens da empresa para o pagamento de dívidas. O valor arrecadado no último, realizado em junho, foi de R$ 22,6 milhões, envolvendo basicamente a negociação de imóveis. Na ocasião, seis aeronaves sucateadas (modelos Boeing 727 e 737) foram adquiridas por R$ 153 mil. Em outubro, devem ser leiloados outros imóveis da empresa.

DC-3 utilizado pela companhia aérea está abandonado às intempéries