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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Ativos da velha Varig à venda


Ativos da velha Varig à venda
Centro de treinamento e 5 estações de rádio da falida aérea vão a leilão este ano
PP-VNZ chegando em S. J. dos Campos no dia 03 de outubro de 2.009 vindo de Confins - MG

Vão a leilão ainda este ano dois ativos ainda em operação da massa falida da Varig. Jaime Canha, gestor judicial das atividades continuadas da finada aérea, planeja pôr à venda no próximo semestre o Centro de Treinamento Operacional, conhecido como FAC, e cinco estações de rádio da companhia. As unidades rendem R$1,2 milhão por mês, diz Canha. O complexo FAC, na Ilha do Governador, está avaliado em R$73 milhões, incluindo terreno, prédios, área de treinamento e três simuladores de voo. As quatro estações de rádio no Sul e uma no Rio valem R$1,8 milhão, segundo o gestor nomeado pelo juiz Luiz Roberto Ayoub, da 1ª Vara Empresarial do TJ-RJ. A brasileira Embraer e a canadense CAE já demonstraram interesse no centro de treinamento. Canha pretende apresentar o projeto e a avaliação do FAC a aéreas brasileiras que não têm unidades de treinamento, caso da VRG (a nova Varig) e da Webjet. Até o grupo EBX, de Eike Batista, já buscou informações. Hoje, o FAC opera com um simulador de Boeing 737, que fatura US$350 por hora de uso. Outro simulador 767 aguarda certificação da Anac para operar. O terceiro, de 737-200, está em manutenção. “São ativos que ainda têm valor, porque há aviões desse tipo voando no Brasil”, diz Canha. Desde a decretação da falência, em agosto de 2010, o faturamento da empresa cresceu 25%. As cinco rádios são usadas pelas aéreas para operações de pousos e decolagens no Sul no Brasil e para comunicação com seus aviões.

Carcaça do PP-VNZ

PP-VNZ




O Boeing 737-300 PP-VNZ da VARIG, visto em Campinas. Foto: Eder Avelino Andrade / Cavok



Atualizado: Não houve interessados pelo leilão


Saudades da Varig - Por Fernando Gabeira

Saudades da Varig
Quase sempre, quando há solenidade importante, com presença de autoridades, aparece um grupo de aposentados da Varig com cartazes afirmando que foram abandonados assim como foi a empresa. Uma série de 13 telegramas da Embaixada americana no Brasil, divulgada pelo Wikleaks, confirma esta de denúncia. Aliás, como grande parte dos vazamentos, trata-se de algo que todos sabiam. O governo hesitou entre salvar a Varig e entregá-la à iniciativa privada. Naquele momento, estava pressionado pela crise do mensalão e se recusou a repassar para a empresa R$1 bilhão, relativo à divida oficial com ela.


A crise aérea, com atrasos, greves de controladores e a incapacidade da Anac foram alguns dos temas dos telegramas críticos. De fato, o governo Lula não respondeu como devia às necessidades do setor. Nem as companhias, que ficam meio escondidas na história, mas também são responsáveis.

Um dos mais interessantes telegramas revela uma fonte do Planalto justificando ideologicamente o abandono da Varig: por que financiar a elite se os pobres andam de ônibus e metrô? Esta fonte não podia imaginar que o setor estava crescendo e os pobres, progressivamente, teriam acesso ao meio de transporte mais rápido. Se a justificativa for sincera, como explicar o foco no trem-bala agora, etapa em que grande parte das populações metropolitanas ainda sofre com o transporte cotidiano?

Foi um erro deixar a Varig morrer. Não sei se resistiria ao novo momento da aviação brasileira. Mas a verdade é que saneada, a empresa teria chance num mercado que cresce 20 por cento ao ano. Os americanos mencionam o mensalão e dúvidas sobre o papel no estado como elementos que inibiram o governo. Os aposentados e funcionários, as vezes, vão mais longe e insinuam que interesses comerciais também tiveram peso. É o tipo de história que ainda levará algum tempo para ser contada com precisão.